Roberto Albuquerque dos Santos
Quando os Espanhóis chegaram à região onde hoje se localiza o México, se depararam com um Império muito poderoso tanto militar, quanto culturalmente. Eram os Astecas.
Inicialmente, os contatos se deram sem grandes conflitos e só após a morte do governante Asteca, Montezuma, em 1520, é que se iniciou uma guerra aberta entre Espanha e México. Hernán Cortez, o responsável pela empresa da conquista da região para a Espanha, já havia conseguido a aliança de quase todas as etnias que compunham o Império e que, dessa forma, eram exploradas pelos Astecas. Sendo assim, em meados de 1521, Tenochtitlán foi retomada pelos Espanhóis que haviam sido expulsos e, em 1525, totalmente destruída para que por sobre seus escombros fosse construída a capital do Vice-Reino da Nova Espanha: a Cidade do México.
Depois da conquista do Império Asteca (também chamado, como já foi referido, de México), os Espanhóis rumaram para o sul e, só depois de muita luta, no final do século XVI, conseguiram conquistar a península do Yucatán, região habitada pelos Maias, que não estavam subordinados aos Astecas e que também não estavam unidos em nenhum tipo de país ou Império, sendo assim, tornaram sua conquista um empreendimento bem mais trabalhoso.
A conquista da América mudou as concepções existentes até então de que os autóctones ameríndios seriam algo abaixo dos seres humanos, na medida em que não eram “civilizados”. A conquista de um Império tão elaborado quanto o Asteca (cuja organização interna era mais bem organizada do que a organização interna de muitos Reinos europeus da época) provou ao mundo e, em especial à Igreja, que os povos da América eram sim humanos. Essa comprovação se deu através da vitória dos argumentos do Frei Bartolomé de Las Casas, que acreditava no fato dos ameríndios serem criaturas passíveis de salvação e que, portanto, deveriam ser catequizados na fé Cristã. Porém havia quem declarasse que os índios eram macacos belicosos e que, por isso, precisavam ser destruídos.
Com a descoberta de que povos americanos conheciam a escrita, a Igreja mais do que depressa organizou autos de fé nos quais foram queimados a maior parte dos livros e pergaminhos Maias e Astecas, além da totalidade dos livros de outras culturas menores. Essa prática visava destruir mais rapidamente a cultura e, em especial, a religião daqueles povos para que o trabalho dos sacerdotes Católicos se desse mais facilmente. A destruição de tais obras sob a alegação de que se tratava de símbolos e rituais demoníacos; alegação essa, baseada no fato de que boa parte desses povos praticava o sacrifício humano com alguma regularidade. Tal atitude dificultou imensamente o trabalho dos arqueólogos e historiadores de hoje que buscam entender como se dava a vida naquelas regiões, além disso, fez com que fossem perdidos para sempre muitos dados valiosíssimos sobre tais culturas.
Mas o que se buscará nesse trabalho procurar entender como se articulou o domínio e a colonização da América pelos espanhóis com o processo de acumulação de capital nas metrópoles européias.
A montagem de uma complexa máquina burocrática nas colônias tinha o evidente interesse de fiscalização, para assegurar a dominação das colônias. Através do monopólio, ou “exclusivo”, a Coroa garantia que os lucros gerados pela colônia permaneceriam na metrópole. Além dos monopólios, os impostos, muitos e variados, garantiram plenamente essa acumulação. Sem dúvida o trabalho realizado nas terras da América tinha como principal objetivo criar um fluxo de recursos a ser acumulado na capital da coroa.
Elementos que proporcionaram a vitória dos espanhóis sobre o império Asteca
A conquista da América é um dos mais importantes fatores que compõe a História Medieval. Fugindo do panorama europeu (embora os mesmo se encontrem no recém descoberto continente), o imaginário se eleva as paisagens de matas, montanhas e cerrados com selvas infestadas de ameríndios que desconhecem a cultura do invasor, mas que tem encravado consigo sua cultura, religião etc.
É inevitável o confronto desses dois mundos desconhecido um ao outro: invasor versos habitante local. Os invasores são em menor número, os habitantes nativos infestam o continente: Por que os invasores conquistam se são inferiores em número?
A este fato Todorov formula um questionamento: “Por que esta vitória fulgurante, se os habitantes da América são tão superiores em número a seus adversários, e lutam em seu próprio solo?”.
As respostas são várias, e entre tantas é necessário destacar o enorme poder de fogo das armas européias, às quais os índios só podiam contrapor com arcos, flechas, lanças e tacapes. Também é considerável o fato que os índios não conheciam o cavalo, como diz Elliot: “O cavalo deu aos espanhóis uma vantagem importante, em termos tanto da surpresa inicial quanto da mobilidade (...) Os invasores também tiraram enorme proveito do fato de pertencerem a uma sociedade de incontestável superioridade tecnológica sobre as sociedades indígenas”
. Importa ressaltar também que os mitos religiosos de alguns povos contribuíram, na medida em que previam a volta de “deuses” que foram identificados com os espanhóis: “Quando viram os espanhóis pela primeira vez, os índios (...) chamaram os espanhóis de Tucupacha, que significa deuses, e Teparacha, (...) também empregado para designar deuses [...]”
. Assim, um misto de misticismo e fatalismo colaborou para que os indígenas aceitassem a derrota ou talvez não resistissem tanto aos espanhóis.
O mesmo autor não só destaca as vantagens bélicas dos espanhóis, mas também destaca as vantagens dos índios. Chama ele a atenção para o fato de que os índios “(...) possuíam a grande vantagem de operar em terreno conhecido, ao qual os espanhóis ainda tinham de aclimatar-se”
. Além do mais, contava também a favor dos silvícolas, os efeitos do calor e as diversas reações da alimentação e bebidas as quais os espanhóis não estavam acostumados e as pesadas armaduras que os mesmos usavam. Outrossim, havia a fragilidade da pólvora junto à água e a eficácia dos fuzis ante as flechas dos nativos. O texto alude que “a superioridade técnica não foi tão bem definida e irrestrita quanto poderia parecer à primeira vista (...) os invasores estavam mal equipados (...) estavam armados com nada mais sofisticado do que espadas, piques e facas (...) treze mosquetes, junto com dez canhões de bronze e quatro canhões leves (...) com enorme dificuldade puderam esse canhões ser puxados pelas florestas e montanhas [...]”
.
Obstante as adversidades encontradas pelos espanhóis, o autor do texto ressalta que “Quando um mundo de ferro e pólvora entra em violenta colisão com um mundo de pedra, era de esperar que a derrota deste último fosse inevitável”
. Portanto, valendo-se da “alta tecnologia” bélica européia e até de fatores pertencentes às crendices e superstições dos índios, os espanhóis derrotam o povo nativo estabelecendo, assim, seu domínio sobre a terra descoberta.
Quanto a este ponto, Todorov busca “encontrar uma resposta na abundante literatura que esta fase da conquista, já na época, suscitou: os relatórios do próprio Cortez, as crônicas espanholas (...) e, finalmente os relatórios indígenas (...)”
. Por essas fontes, Todorov adiciona mais um fator a conquista: o comportamento de Montezuma. Para ele a razão que mais se destaca entre outras, para a conquista espanhola sobre os astecas é o fato de Montezuma não se opor a Cortez. Afirma ele que, Montezuma, apresenta “(...) um comportamento ambíguo, hesitante (...)”
. Um outro fator citado é a “(...) exploração que Cortez faz das dissensões internas entre as diversas populações que ocupam o solo mexicano”
. Ou seja, Cortez não fez uso apenas da artilharia, da superstição ou religião asteca para vence-los. O uso da passividade que Montezuma demonstrou para com os espanhóis e os levantes ocasionados entre diversas tribos foram fatores estratégicos usado por Cortez na conquista.
O problema da comunicação no processo de conquista
Além do que já foi posto no desencadeamento do processo de conquista pelos espanhóis, concernente aos Astecas, não se pode ignorar ou desprezar a formulação da comunicação das duas sociedades em questão. Os astecas eram dados a um aglomerado de símbolos que formam uma complexa linguagem para suas interpretações do cotidiano em seus diversos aspectos, desde a vida familiar as táticas de guerra. Os índios fazem uso de adivinhações, como por exemplo, a adivinhação cíclica que compõe seu calendário de treze meses, que é de suma importância para avaliar as ações dos homens, pois segundo eles “(...) Saber a data de nascimento de alguém é conhecer seu destino [...]”
. Uma outra forma de adivinhação era o presságio. Nessa forma, “Qualquer acontecimento que saia um pouco do comum, afastando-se da ordem estabelecida, será interpretado como prenúncio de um outro acontecimento, geralmente nefasto”
. Assim, adeptos dessa forma de comunicação que se enraíza mais com o mundo que com o individuo, que se embasa nos símbolos místicos e religiosos, que tem um caráter mais coletivo que mesmo individual, os astecas diante dos espanhóis não sabem o que fazer, pois para eles o fazer depende do saber, do conhecer os próprios presságios e dos agouros que estão sobre os inimigos. Nesse contexto, os espanhóis exercitam a comunicação entre si; é a interação de individuo a individuo; é o elemento do grupo interagindo com o grupo. Já os astecas, em sua sociedade, estão acostumados a confiarem seu cotidiano a alguém “que interpreta o divino, o natural e o social através de indícios e presságios, com o auxilio do profissional que é o sacerdote-adivinho”
. Esse é um aspecto que pode explicar a reação não só do próprio Montezuma, mas dos índios diante de seus algozes, ou seja, “(...) as profecias exercem um efeito paralizante
(sic) sobre os índios que têm conhecimento delas e diminuem-lhes a resistência (
sic) (...)”
.
Por outro lado os espanhóis, ao deparar-se com os nativos, terão uma interpretação de superioridade diante dos mesmos. Irão considerá-los como bárbaros, “(...) não chega nem a ser um homem, e, se for homem, é um bárbaro inferior; se não fala a nossa língua é porque não fala língua nenhuma, não sabe falar, com pensava Colombo”
. Se por um lado os astecas recorrem aos deuses para saberem como agir diante dos espanhóis, e entregues as fatalidades descritas por presságios e profecias religiosas envoltas de pessimismo e desmotivação, pois a luta parecia improdutiva, assim, são derrotados mais por suas crendices que mesmo pelo arsenal dos espanhóis. Já estes, achando-se superiores em cultura e humanidade, desprezam os nativos como humanos e portadores de cultura própria.
As continuidades no processo de conquista e características da economia adotada
A vitória de Cortez sobre a nova terra já é um fato consumado. As relações de paz ou guerra, conflitos ideológicos, racistas e culturais fizeram parte de um processo que, ao menos os europeus, souberam tirar partido de uma confrontação primeira, de um relacionamento primário entre dois povos que (se acredita) se desconheciam por estarem separados pelo imenso mar e pela ignorância marítima do além horizonte.
Obstante a conquista, a forma pela qual se realizara deixaram marcas que até o inicio do século XIX ainda eram relevantes. O feito heróico dos europeus que, em busca de ouro para encher os cofres de Castela, se depararam com silvícolas e, de forma sutil ou não, não só se apropriaram da riqueza dos índios como os venceram em batalhas e ainda mais, os escravizaram às minas e nos campos, nos sistemas de Mita e Encomienda.
O sistema implantado na colônia espanhola é avaliado como débil, porém capaz de sobreviver a tal qualidade. Ainda no século XVIII, era vista como caduca, ou seja, uma estrutura arcaica. Concentrava-se, tão somente em acumular riqueza com o mínimo de investimento possível. Isso acarretou conseqüências para o sistema comercial entre Espanha/Índia, ou seja, os custos na participação da Metrópole tornaram-se elevadas. Tal sistema levou “(...) a supremacia econômica concedida aos representantes locais da economia metropolitana, o fisco e os comerciantes que asseguravam as ligações com a península; e, (...) a manutenção quase total dos demais setores da economia colonial (...)”
. Isso evidencia vantagens a Metrópole espanhola e desvantagens aos setores que foram dominados na colônia. Mesmo assim, os colonizadores continuaram a administração econômica em favor de Castela na terra conquistada. Essa economia não estava apenas nas minas de ouro, mas estendeu-se para agricultura, e artesanato. Os indígenas eram “encomendados” e levados para longe de suas tribos para trabalharem e, por não conseguirem pagar os tributos aos seus donatários, muitos ficavam impossibilitados de retornarem ao seu lugar de origem. Um outro fator de economia barata é a imposição aos índios de trabalho forçado na industria de mineração e têxtil (a Mita).
A diminuição da população (por conseqüência dos sistemas adotados) irá provocar uma catástrofe demográfica no século XVII. O setor agrário é afetado e há uma substituição da agricultura pela pecuária (caso do México). Segundo Donghi, isso tem aspectos feudais, pois os europeus que, passam a substituir os indígenas no trabalho, começam a exigir a “(...)
bacienda, unidade de produção agrária dirigida pelos espanhóis”
. Em fins do século XVII, a colônia que estava sob pacto comercial, vê-se diante de uma reforma que visava trazer estabilidade e liberdade de comércio entre Castela e as Índias. Essas reformas resumiam-se na admissão da Metrópole que o ouro não era a única contribuição da colônia e, que, as colônias poderiam ser usadas como mercado de consumo. A reforma comercial consolidou e promoveu modificações na economia colonial, porém de forma limitada. Essa reforma visava dificultar o comércio entre as colônias objetivando, assim, o comércio direto com a Metrópole. Mas a própria Metrópole não tem força suficiente para fornecer produtos industriais aos seus domínios imperiais. Ademais “o novo pacto colonial naufraga, fundamentalmente porque a Espanha consegue apenas se transformar numa pesada e onerosa intermediaria entre as suas Índias e as novas metrópoles econômicas da Europa Industrial”
.
As relações Madrid/Hispano-América e o problema da falta de integridade regional e seu relacionamento com o Brasil
Como conseqüência das reformas e do número constante de europeus na América, e pelos mesmos disputarem palmo a palmo uma parte de terra para sobreviver, invadindo assim áreas já delimitadas, ocorre o crescimento do sentimento de descortesia pela Metrópole. Os próprios europeus instalados na colônia e que retiam cargos administrativos sentem-se isolados da coroa. Disso pode-se concluir que a implantação da sociedade hispano-americana se deu de forma desigual. Referindo-se a distribuição da população, Donghi ressalta que “(...) a distribuição desigual era imposta em parte pela geografia”
.
Mas o mal estar não estava apenas centrada na má distribuição dos lotes. A população urbana também estava descontente com os administradores e com os clérigos. Além do mais não se concebia esperanças de elevação social a população. Pesava nessa relação também o destino do fruto do trabalho produzido na colônia. Havia uma classe alta que “(...) é escandalosamente rica e sua prosperidade contrasta com a profunda miséria popular”
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Essa classe estava concentrada especialmente no México, região de maior desenvolvimento. Mas apesar de tal produção, que chegou a ser superior a da própria Metrópole, não é repassada aos trabalhadores de maneira digna, antes se concentra a uma distribuição privilegiada a algumas pessoas; ademais, noventa e cinco por cento da prata produzida anualmente no México era direcionada à Metrópole. Apesar de receber as riquezas da colônia, a Espanha não investia capital na modernização dos artefatos industriais, ou mesmo, direcionava parte dessa riqueza para o bem da colônia.
Paralelo às colônias espanholas, ou seja, situado na América do Sul, o Brasil, colônia portuguesa, é alvo no século XVIII de transformações que não são observadas nessas outras colônias de Castela. Nessa colônia, a produção de açúcar ao norte é transferida para a área central e a exploração das minas (na mesma região), desde o século XVII, se torna ponto de confronto entre os colonos e os cobradores de impostos da coroa. Boa da produção era transferida a Portugal. Ao norte, no Maranhão, a produção nos campos de algodão é um fator de desenvolvimento da região. Ao sul, dar-se-á um aumento da pecuária.
No entanto, século XVII, a produção açucareira tinha um monopólio nas mãos de Portugal/Espanha e de uma parte do Brasil colonizado por espanhóis. Contanto, com a invasão da Holanda no norte do Brasil e sua subseqüente expulsão (principalmente pelos sesmeiros pernambucanos e baianos), os holandeses aportam nas Antilhas e abrem concorrência a industria do açúcar, promovendo assim, a decadência dessa produção econômica brasileira.
Como na relação espanhola com suas colônias, Portugal também não investia nas técnicas utilizadas na produção de sua colônia. O Brasil se via a produzir açúcar com uma organização arcaica, ultrapassada e com técnicas também inseridas no mesmo contexto. Essa industria sobreviverá paralela ao expansionismo de outras atividades no Brasil. Enquanto a união Ibérica esteve em vigor (até 1640), a economia brasileira susteve-se; após a separação, o Brasil ver-se em dificuldades a manter comércio com as colônias espanholas. Mesmo assim, provinda de Potosí, prata é comercializada no Brasil através de um comércio de troca, considerado clandestino, mas com um volume permitido entre colônias espanholas e portuguesas, assegura que o Brasil possa comercializar esse metal.
Um outro fator que diferencia a economia do Brasil da espanhola é que o Brasil não se servia apenas da mão de obra indígena, mas também de escravos africanos. Para defender a produção primeira da economia açucareira, a caça ao índio se desenvolveu, até mesmo na crise recessória. Mas, diferentemente dos espanhóis, Portugal absorverá em sua colônia a mão de obra advinda da África e institui a escravidão no Brasil, isso irá incluir no Brasil uma cultura e mestiçagem heterogênea até hoje existente. Essa obtenção de mão de obra escrava tanto ritmou a produção nas minas como também trouxe um fluxo considerável no censo demográfico populacional no território brasileiro no final século XIII.
Semelhante às colônias espanholas, a colônia portuguesa na América também enfrentou reformas administrativas. E de igual modo só obteve êxito em algumas regiões. O marquês de Pombal implantou no Brasil um processo de investimento para o desenvolvimento da agricultura brasileira. Esse processo visava um sistema a beneficiar companhias comerciais. O fracasso foi relevante, principalmente na industria açucareira que só conseguia difundir sua produção em um mercado já existente. Como nas outras colônias espanholas, as posses de terra eram doadas a classe aristocrata que “(...) não estava disposta a ceder o controle do mercado local a uma companhia de ultramar”
. Essa resistência se dava no Norte/Nordeste brasileiro, já que, no rio de Janeiro existia um grupo de aristocratas ligados ao mercado ultramar, contrário a existência de tal fato nas colônias espanholas.
Concernente a administração da colônia, Portugal se ver em desvantagem frente à Espanha. A estrutura econômica portuguesa bem mais desestruturada que a espanhola, e isso é demonstrada pelas relações sociais. Portugal (assim como também a Espanha), não consegue conciliar exploração e conquista. A relação do Brasil como colônia com Portugal é de simples estabelecimento comercial ou fonte de produção aurífera ou açucareira a suprir as necessidades dos europeus (embora seja vista como escassa essa produção). Outro fator é a estrutura administrativa: tudo provinha de concessões políticas. A possessão de terra dependia da coroa, que, segundo suas prerrogativas, distribuía (doava) lotes para comerciantes portugueses explorarem a colônia. Isso traz sem dúvida a expansão demográfica colonial, pois a implantação de famílias no território levava ao aprofundamento nos sertões, e o aumento de vilas urbanas.
A relação hispano/americana com a situação do Brasil colonial é bem resumida na interpretação de Donghi: “Todas essa diversidades nos levam a uma diversidade essencial: na América espanhola, a propriedade da terra e a riqueza nem sempre estão legadas; no Brasil, ocorre o inverso, e, por isso, a classe dominante dispõe de um poder que falta freqüentemente à sua congênere da América espanhola”
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A América Latina atual sob a perspectiva da herança colonial
Não há como negar a influência do sistema adotado pelas metrópoles colonizadoras sobre suas colônias até os dias atuais. Desde os dias em que os europeus aportaram no continente recém descoberto, o ritmo do curso, até então natural dos habitantes nativos, sofreram alterações com a absorção do desconhecido, desde o âmbito cultural até o religioso; ainda mais aspectos trabalhistas (se não tão diferenciados dos aplicados principalmente na América espanhola) de escravismo, de exploração e aniquilação da mão de obra pela debilidade física, etc.
Os meios utilizados pelos paises ibéricos a suas colônias já as deixaram debilitadas em todos os aspectos. O processo de vampirismo das riquezas da terra desde as naturais, minerais, físicas e até culturais, são de uma conseqüência até hoje vivida nos paises latinos. A herança que a América Latina – e essa herança é colonial – está intrinsecamente relacionada aos princípios econômicos de exploração já existente na colônia, que sobreviveu até os dias atuais, apontando para um endividamento que é fruto de mentalidades retrogradas deste contexto colonial que, de forma indutiva, monopolizara o sistema numa administração subjetiva.
A independência conquistada pelo bloco dos países andinos, platinos, antilhanos e sul atlântico, trouxe aos mesmos (embora independentes um do outro) uma autonomia política, social e econômica, que é - aparentemente - um tanto superficial. Embora esses países tenham desenvolvido ao longo do tempo uma diversidade de planos econômicos e administrativos, não conseguiram recuperar-se da sangria generalizada imposta pelas metrópoles na época colonial. Os países latinos trazem em seu bojo uma divida aos países saxônicos de difícil perspectiva de saldar seus compromissos.
Além do fator econômico, um outro que se destaca é o da catequese religiosa. Os latinos se viram invadidos por costumes, ritos e tradições alheios a sua conduta nativa. Seus deuses e seus cultos foram paganizados e ridicularizados; suas cidades sagradas, seus templos e altares foram derribados e sobre suas cinzas foram construídos templos da religião européia que se assenhorou do território conquistado. As divindades indígenas foram miscigenadas aos santos católicos, para que assim, aquela comunidade pudesse absorver tradições cultuais e serem cristianizados. Hoje, tanto no México como nos andes, no Peru e até mesmo no Brasil, divindades africanas e indígenas se misturam ao panteão da agiolatria católica.
Ainda hoje se pode ouvir o som dos canhões de Cortez soar sobre a cultura latina assustando os nativos que desconheciam o poderio bélico de tais armas. Não são tiros impulsionados por pólvora, mas a discursos de unidade econômica e política que, no fundo, busca uma dominação através da coerção do embargo econômico e da violência moral indiscriminada.
A Europa conquistou e impôs seu domínio. Certamente que nem todos habitantes da América espanhola ou portuguesa se renderam passivamente ao invasor, mas aos poucos foram se habituando ao domínio do feitor. Porém, mesmo a contra gosto, se tornaram reféns e escravos de uma sociedade que se achava superior. Hoje a América Latina se põe em uma situação que, por fatores psicológicos de sua história no passado, pela herança colonial que trazem consigo, tende mais uma vez a submeter-se aos demando dos poderosos.
BIBLIOGRAFIA
DONGHI, Túlio Halperin. – História da América Latina; Circulo do Livro;
ELLIOT, J.H., BERTHEL, Leslie (org) – História da América Latina: A América Colonial I; Ed. USP; 2. Ed.
TODOROV, Tzevetan. – A Conquista da América: A questão do outro; Ed. Martins Fontes;
Sobre o Autor
Bacharel em Teologia formado na FAESP;
Bacharelado e Licenciado em História pela FIEO;
Palestrante, Conferencista em diversos eventos;
Professor de Teologia (IETEB - Osasco/ ITF - Embu);
Escritor de apostilas utilizadas na grade do IETEB, conforme abaixo:
- Curso Básico: Introdução Bíblica; Antigo Testamento; Novo Testamento;
- Curso Médio: Cristologia; Livros Poeticos; Período Interbíblico
- Bacharel: Cristologia; Livros Poéticos;
- Outros: Bibliologia Geral; Arqueologia Bíblica;
Escritor de diversas Apostilas usadas em Palestras, Estudos e Seminários. Entre outros títulos, citamos: Escatologia; O Adolescente; Laços do Passarinheiro (voltado aos jovens); Liderança/Líder/Relacionamento com o Grupo; Não Sejais Meros Ouvintes (Estudo no Livro de Tiago).
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