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terça-feira, 24 de maio de 2011

AS CIDADES GREGAS ANTIGAS: O FASCÍNIO SOB O OLHAR CRÍTICO DA HISTÓRIA

Roberto Albuquerque dos Santos                

  
          A presente análise não tem a pretensão de ser completa. Obstante, a tal pretensão, não deixa de considerar pontos que, a vista dos autores, se tornam paradoxais. Os mesmos ao escreverem sobre a região Ática, principalmente suas cidades, diferem em diversos aspectos, desde a temporalidade à estrutura física e social; política, organização urbana; cultura, artes e empreendimentos militares; religião; distribuição populacional, e outras características das cidades que, em seu tempo (tempo trabalhado pelos autores), compuseram a região citada.
          Assim, analiso alguns pontos discutidos nos textos, centralizando essas discussões no que concerne a estruturação do aspecto físico das cidades da região citada.

ANÁLISE DO TEXTO I

1.1 Texto I
1.2– Título: A Cidade na História: Suas Origens, Transformações e Perspectivas.
1.3– Subtítulo: (Capítulo VI) - O Cidadão Contra a Cidade Ideal
1.4– Autor: Lewis Mounford (sic)
1.5 – Análise das Subdivisões dos capítulos
          O texto (capitulo VI) de Lewis está dividido da seguinte forma:


1 - Cidade e cidadão – Lewis trata do relacionamento entre a cidade física e a cidade cidadã (construções X cidadania). Alude sobre a insignificância da cidade helênica do período abrangido no que concerne à arquitetura e planejamento de suas construções; fala da pólis, e com essa, o sonho de uma cidade ideal que estaria na vida de cada cidadão; também discute a idéia de cidadão livre e, de que, assim, tudo pertenceria a todos.
2 - A forma da Cidade Helênica – Aqui, a alusão maior se faz a Acrópole e sua estrutura, a cidade alta, a montanha sagrada onde ficava o Primateu, o fogo sagrado; a Ágora, que no sopé da Acrópole, constituía a cidade baixa e reunia seus cidadãos no ginásio ou na praça pública; trata da organização urbana como desordenado (ruas estreitas e tortuosas) e o saneamento precário e inadequado em sua maioria; aborda a higienização: os banhos públicos e privados, esse último, como sendo, provavelmente, rituais específicos.

3 - A Pólis Encarnada - Neste item, o cidadão é desvinculado da cidade. Ele é analisado a partir do que possuía como identidade cidadã e não a partir do que possuía materialmente. O autor enfoca a transparência social que se impunha aos cidadãos; fala de Sófocles e Sócrates como idealistas da integridade no século V a.C.; confronta a vida pública e a vida privada com suas atividades, exigências, funções, participações, etc; retrata a educação ateniense como inigualável na formação da cidadania; ainda destaca a transição de políticos e filósofos, suas idéias e aspirações; afirma que os gregos jamais criaram plenamente uma cidade a sua própria imagem, devido a Guerra Pérsica.
4 - Regressão a Utopia – É discutido aqui a intenção, ainda, de se ter uma cidade perfeita para cidadãos perfeitos (o que ele acha impossível, daí o termo “utopia”). O centro da discussão, portanto, fica por conta do bloqueio urbano. O autor comenta a geografia da região e, declara que “as montanhas já não podiam servir de muralhas (...) e a obscuridade topográfica já não bastavam para evitar que uma cidade fosse notada por Estados mais fortes e fosse apagada do mapa” (p. 191). Assim, fica subentendida sua intenção de informar que as cidades citadas não possuíam muralhas para proteção; outro fator negativo para o bloqueio urbano, segundo o autor, foi a gênesis de uma literatura que buscava delimitar a essência de uma comunidade satisfatória; cita que “Platão, na verdade, o tentou duas vezes em Siracusa –, no sentido de dar existência real a uma cidade ideal” (p.191); aponta a busca dos gregos ao planejamento urbano, para tanto, recorrem a Hipódamo, que teria dividido a cidade em tríade (cita Aristóteles, para tanto); levanta a questão de Platão e sua obra “A República”.
5 - O desafio da Dialética Grega – Aqui, Lewis destina-se a fazer uma crítica a Platão, concernente a sua visão perspectiva a pólis e, ao seu planejamento de disposição dos edifícios e casas da cidade; é incisivo ao chamar Platão de arcaico: “Admira-nos a cegueira de Platão. A cultura grega tinha em seu tempo, chegado a um ponto de desenvolvimento que tornava necessário desafiar as formas arcaicas até então personificadas na cidade (...) Eram essas as visões nascentes dos grandes espíritos do século V. Platão não desempenhou papel algum nessa reavaliação do ‘modo grego de vida’ tradicional” (p.201), e “sua prematura cristalização nas formas arcaicas da cidade. Seu esforço resultou apenas numa tentativa de tornar a própria cidadela mais segura, contra a usurpadora cidade democrática (...)” (p.202).  

ANÁLISE DO TEXTO II
2.1 Texto II
2.2 – Título: História da Grécia
2.3 – Subtítulos: (Capitulo III) – A Grécia e os Reinos Egeus
(Capítulo VI) – Atenas e a Ática de 800 a 600 a.C.
2.4 – Autor: M. Rostovtzeff.  



          Os textos de Rostovtzeff, por sua vez, não estão divididos em subtópicos. O autor abrange a cada capítulo o assunto em questão, debatendo de forma ininterrupta, porém de forma progressiva e concisa, os temas por ele dissertados.

 
          No capítulo III ele discorre sobre a historicidade dos Egeus; suas origens, a geografia da região, a vida em sociedade (Cretenses, Micênios e Egeus), construções (edificações), religião, arte, comércio, organização política, os meios de produção a partir da propriedade rural, da pecuária e manufatura, etc. Ademais, a tais informações é adicionado um total de VII pranchas (fotos com informações arqueológicas), e figuras (desenhos) com o propósito de elucidar informações contidas no texto. Esse período ele situa entre os séculos XV e XIII a.C.
          No capitulo VI os temas abordados consistem em uma análise de como Atenas chega a liderança da península da Ática. Em primeiro momento, ele tange seu foco às diferenças entre as cidades de Atenas e Esparta (comércio e unificação política), sendo que a primeira, por acordo comum entre as cidades da região, torna-se “(...) o único centro de vida política, econômica e religiosa” (p.99), trazendo unificação à península. Destarte, entre outros temas, segue Rostovtzeff tratando do governo tripartido (Rei, Polemarca e Arconte), sobre as transformações sociais do período, divisão das obrigações militares, da economia, da criação de um Estado Democrático (fim das instituições dos clãs), disserta sobre Drácon e Sólon, sobre o conselho dos anciãos (Areópago), o governo de Pisístrato, o enfraquecimento do poder aristocrático, sobre o comercio e a política externa, a homogeneidade do exército ateniense (absorção de mercenários citas), as mudanças políticas feitas por Clístenes, a substituição das fratrias pelos demos no processo eleitoral, o orgulho dos atenienses com a sua cidade, etc. O capitulo traz três figuras ilustrativas: O palácio de Tétis, mulheres com cântaros e, uma alusão a Ulisses em seu navio, quando tentado pelas sereias (Homero). O período aludido (do texto) situa-se entre os séculos IX e VII .a.C.

PONTOS DE DISCUSSÃO  
          Dentre os diversos pontos de discussão, encontrados nos textos, pode-se destacar o que os autores explanam sobre a constituição física das cidades egéias na Ática.

 
          Lewis começa sua dissertação afirmando que “Pelo fim do século VI, a cidade helênica começara a tomar forma; (...) Até o século IV, a mais orgulhosa das cidades da Ática, senão da Ásia Menor, era pouco melhor que uma cidadezinha (...)” (p.177). A datação exposta, embora se refira a estrutura da cidade (casas, ruas, etc), não deixa de ser determinista. Sua intenção também é mostrar que as cidades da Ática não eram tão esplendorosas como relatam muitos historiadores, poetas e admiradores da região; “O retrato da verdadeira cidade helênica, que nos chega de Atenas (...) contrasta com o branco esplendor que J.J. Winckelman e seus sucessores tendiam a interpretar (...) Na verdade, a cidade visível, a cidade tangível, era cheia de imperfeições: (...)” (idem).
          Diferentemente de Lewis, no livro História da Grécia, no capítulo VI, Rostovtzeff intercala o surgimento das cidades entre 800 e 600 a.C., ou seja, ele não afirma uma data especifica, mas a intercala num período quando ressalta que “Na Grécia, entre 800 e 600 a.C., surgiu, lado a lado com Esparta (...) a cidade Estado de Atenas, o centro econômico e político da Ática” (cap. VI, p.97). Rostovtzeff não entra em detalhes sobre as características físicas da cidade, mas chega a afirmar que a cidade ou região da Ática, embora não fosse grande, possuía uma riqueza natural considerável.
          Quando Rostovtzeff detalha cidades, faz referindo-se as cidades egéias, mais particularmente aos cretenses e micênios (ilhas). As populações gregas (que ele chama de colônias), todavia, afirma ele, que essas cidades egéias (e ele coloca essa temporalidade a dois mil a.C.) as que estava localizadas na orla marítimas (continente) eram fortificadas e “cada uma delas tinha muralhas de pedra, com palácio real (...) e moradias para os súditos do lado de fora das muralhas” (p.40). E ainda: “(...) a colônia se transforma numa cidade que rapidamente assume uma aparência organizada e civilizada. Tem ruas pavimentadas, casas de vários andares, esgotos, e outros dispositivos sanitários (...)” (p.42).
          Embora a temporalidade não seja a mesma que Lewis trata em seu texto, Rostovtzeff afirma que já desde vinte séculos a.C., as cidades na região Ática eram estruturadas; Lewis sempre busca descaracterizar essa estruturação. Diz ele: “Mas não existia calçamento para evitar a lama na primavera ou a poeira no verão (...) Nas cidades menores do século V, a escassez, quando não a ausência absoluta de melhoramentos sanitários era escandalosa, quase suicida (...) Os escavadores modernos não têm desenterrado indicações de melhoramentos sanitários da moradia helênica (...)” (p.183).
          Certamente, as narrativas diferem em pelo menos cinco séculos de uma sociedade a outra. Contudo não passa despercebido o fato de que a sociedade mais antiga fosse mais desenvolvida que a posterior. Lewis argumenta que o fator para a aglomeração nas cidades (e posterior degradação da própria cidade, principalmente Atenas) teria sido a guerra do Peloponeso em 432, que, nesse tempo, ter-se-ia dado como que uma explosão populacional na própria Acrópole: “(...) os refugiados eram forçados a acampar na Acrópole, desafiando as válidas advertências contra aquela imunda concentração, proveniente da própria Delfos” (idem). Mas esse fato, o da guerra do Peloponeso, Lewis não se detém a articular como argumento de suas afirmações para a estrutura precária da cidade analisada por ele. Ele cita a guerra de forma superficial, indireta, causal; a superpopulação na Acrópole é resultado da “(...) grande praga ocorrida na Guerra do Peloponeso (...)” (idem), contudo, para ele, não parece ser a guerra o fator decisivo dessa desestruturação da cidade, pois ele não volta a se referir ao tema da guerra e se atém novamente a evidenciar a precariedade da cidade: “Isso indicaria que pelo menos algumas das casas tinham provisões sanitárias privadas, embora em parte alguma tenha eu encontrado quaisquer referências à posterior deposição de matéria fecal (...) ‘um homem esvazia seu ventre no Pireu, perto da casa onde acham as moças más’, não havendo dúvida, pois, quanto à naturalidade e à falta de sentimento de vergonha no desempenho de tais funções corporais” (p.184), afirma ele. Em contrapartida, referindo-se ao governo de Clístenes (502 a.C - época contemporânea a época a que Lewis discute a cidade grega.) –, no capítulo VI, Rostovtzeff afirma que “Nenhum grego era tão orgulhoso da sua cidade e do seu país como o ateniense (...)” (p.111).
          Enquanto Lewis é critico incisivo à estrutura das cidades da Ática (e todo seu texto tem um aspecto crítico), Rostovtzeff é analítico e ponderado em suas afirmações. Isso nos faz ter uma visão mais panorâmica acerca da região em seus diversos estágios temporais e de estruturação, tanto física como conceitual. 

Sobre o Autor
Bacharel em Teologia formado na FAESP;
Bacharelado e Licenciado em História pela FIEO;
Palestrante, Conferencista em diversos eventos;
Professor de Teologia (IETEB - Osasco/ ITF - Embu);
Escritor de apostilas utilizadas na grade do IETEB, conforme abaixo:
- Curso Básico:  Introdução Bíblica; Antigo Testamento; Novo Testamento;
- Curso Médio: Cristologia; Livros Poéticos; Período Interbíblico
- Bacharel: Cristologia; Livros Poéticos;
- Outros: Bibliologia Geral; Arqueologia Bíblica;
Escritor de diversas Apostilas usadas em Palestras, Estudos e Seminários. Entre outros títulos, citamos: Escatologia; O Adolescente; Laços do Passarinheiro (voltado aos jovens); Liderança/Líder/Relacionamento com o Grupo; Não Sejais Meros Ouvintes (Estudo no Livro de Tiago).
Email: pr_robert@itelefonica.com.br

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