Total de visualizações de página

domingo, 29 de maio de 2011

O Meu Desejo e a Vontade de Deus

          Roberto Albuquerque Santos


          A Bíblia nos afirma que Deus realiza os desejos de nosso coração (Sl 20). Obstante a isso, a mesma nos condiciona a orarmos em busca da vontade Dele. Afinal o que devo buscar? O que deseja o meu coração ou o que Deus tem preparado para mim? O que receberei? O que desejo ou o que Deus deseja?           
          O final do século XX foi invadido por uma pregação que tem como base a confissão positiva e, que de certa forma, incomodou (incomoda ainda?) não apenas tradicionalistas e conservadores do cristianismo no Brasil, mas até mesmo os Pentecostais: foi o movimento denominado Neo-Pentecostal.   
            

          Mesclado a essa “nova onda” de mensagem, pregadores de vários segmentos em busca de agradar seu público, despejaram (e ainda despejam) uma dose de entusiasmo e de motivação a ponto de levarem as suas platéias a acreditarem que são super-homens (crentes) e que não há dificuldade que não seja superada. Para tanto, essas pessoas utilizam passagens bíblicas onde o mar se abre; muros são derribados; onde a terra se fende e os inimigos são de todos destruídos em questão de minutos. É evidente que tais registros nas Escrituras são relatos históricos de fatos decorrentes de situações onde se fez necessária a intervenção divina naquele momento, mas isso não se caracteriza em uma regra.
           Ao analisarmos o ponto de vista dos tais, chegamos a uma conclusão que alguns princípios (Doutrinas)  Bíblicos são totalmente desvirtuados de sua essência e os ouvintes têm um prisma diferente do ensino das Escrituras.
Dentre os mais variados, podemos citar alguns pontos. Os mais atingidos são:
1 - A Fé - É apresentada como uma jóia rara e que os que a possuem, são capazes de alcançarem o imaginável. Dela e só dela depende a benção almejada; se o homem a possui, Deus está condicionado a atender a petição.
2 - A Graça - É trocada pela obrigação imposta a Deus por registros bíblicos onde o mesmo afirma cumprir a sua palavra, ou seja, o que recebemos de Deus não é por sua benignidade e compaixão, mas um cumprimento de sua obrigação em abençoar. Muito dessas "bênçãos" são ministradas aos adoradores em forma de barganha, por exemplo, "dar para receber" (se "damos" a Deus o mesmo fica obrigado a retribuir).
3 - A salvação - Não está mais condicionada no crer em Cristo, nem tampouco sua morte expiatória para o perdão dos pecados; a cruz foi trocada pela promessa de bênçãos e prosperidade e, a salvação, resume-se no simples acreditar que Jesus existe.
4 - O Espírito Santo - É o doador de uma força descomunal tornando o homem resistível às conseqüências da vida. Não o mostram como o Consolador, mas como o detentor de um poder como "de uma bomba atômica” (realmente não conhecem o Poder do Espírito Santo), e assim, Ele não é o que consola os crentes e sim o que os prepara para lutas constantes no mundo espiritual.
5 - O Evangelismo - Não visa preparar obreiros para a seara do Mestre, mas busca alavancar o número do censo evangélico da cidade ou até mesmo do país; os neoconversos são mais destinados a serem seguidores da denominação do que mesmo de Cristo; muitos são discipulados por pessoas inexperientes e sem conhecimento das doutrinas bíblicas.
            Além dos pontos acima citados, há inúmeros ritos, movimentos e sincretismos que podem ser identificados em sermões, tais como o gnosticismo, o ascetismo, e o misticismo. As liturgias por ora apresentadas em muitas igrejas se transformaram em verdadeiros ritos costumeiros e caíram em uma rotina tal que antes mesmo de se começarem os cultos já sabemos como vão findar. Muitos cultos de louvor e adoração passaram do intuito para os quais são designados para se transformarem em verdadeiros espetáculos com direito a "fumacinha" e "globos giratórios"; há "cantores" que ao invés de louvarem são louvados e aclamados. Tiram o brilho que devia ser do Cristo de Deus e não se importam de receberem estrelismo quando a eles são designados.

          É dentro dessa embalada frenética que a igreja do século XX mergulhou no século XXI: Uma multidão de gente descompromissada com o Evangelho do Nazareno e compromissados com suas idéias e maneiras de lidar com o público: A humildade foi trocada pela arrogância, a sabedoria pelo bom planejamento, a direção do Espírito Santo pela boa administração e a vocação ministerial por uma posição bem sucedida na sociedade.
            É preciso lembrar que não há humildade onde Jesus não é o Senhor absoluto; não há planejamento bem sucedido se não obtiver a aprovação divina, pois o mesmo depende de ter sido elaborado pelo Espírito Santo e este ter revelado aos homens a sua vontade e por meio deles realizar tanto o querer como o efetuar; uma igreja só terá uma administração sólida e frutífera quando o Espírito Santo tem o domínio nas vidas e quando os homens encarregados na administração da igreja são sensíveis a sua voz, presença e vontade. Ter vontade de administrar não quer dizer que tenha chamada para tal. Não é apenas um bom curso de administração que faz de um homem um líder de sucesso: é preciso ter vocação (principalmente se referindo as coisas de Deus).
            Mas qual a relevância de tais fatos em relação ao assunto abordado? A importância é saber a quem estamos disponibilizando as nossas vidas para administrarem a benção sobre nós. Precisamos saber se estamos sendo bem orientados ou não sobre a fé e sobre nossa vida cristã; se estivermos buscando saber de forma coerente ou não à vontade de Deus, ou se estamos sendo ensinados a gerenciar a ação divina sobre nós, "tirando" do Senhor as prerrogativas de Sua Soberania. Deus deu vida ao homem. Nossa existência não é uma vida inútil, mas um canal pelo qual Ele realiza seus propósitos em meio à humanidade. Por isso, precisamos saber discernir, como disse Paulo, "Qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus".

            Portanto, em nossas orações, não podemos ser egoístas e pensarmos só no que queremos sem nos importarmos com o que Deus "pensa" sobre o nosso pedido. Não podemos chegar diante dEle com prerrogativas e argumentos baseados em versículos pré-selecionados querendo fazer Deus prisioneiro de palavras registradas na narrativas bíblica. Narrativa essa onde Ele (Deus) revela a imensidão de seu amor pelo seu povo demonstrando, assim, uma graça imensurável da qual não somos dignos.
            Estou certo de que as bênçãos do Senhor são para nós e que como co-herdeiros com Cristo somos participantes das riquezas de sua glória, mas é preciso entender que também herdamos seus sofrimentos e dores, ou seja, não vivemos em um Evangelho mágico onde tudo dar certo e que jamais seremos derrotados e sempre teremos tudo simplesmente porque declaramos que o Senhor está conosco. É por Ele está conosco que sofremos, somos perseguidos, no entanto, jamais aniquilados.
            Há vários exemplos bíblicos onde os envolvidos na petição buscaram em suas orações uma intervenção divina na situação em que passaram ou uma resposta de forma a que fossem livres de tal situação vexatória ou de perigo. Há casos como o de Abraão, Raquel, Ana, entre outros, que esperaram uma providência divina para alcançarem um filho visto que, as condições físicas envolvidas (no caso de Abraão, Sara era a estéril) impossibilitavam o cumprimento da realização do desejo almejado. Nesses casos, vemos a resposta divina favorável aos mesmos. Deus cumpriu-lhes o desejo. Mas observando mais a fundo essas passagens podemos entender que o ocorrido estava fundamentado dentro de uma perspectiva divina, ou seja, Deus realizou uma obra por intermédio da resposta a essas orações (embora a Abraão tenha sido feita uma promessa).        
Vejamos:
- De Abraão descendeu Isaque do qual descendeu Israel e as doze tribos;
- De Raquel, esposa de Israel descendeu José, que foi governador no Egito e possibilitou a entrada dos seus irmãos à terra de Gósen no tempo de seca e fome em Canaã;
- De Ana nasceu Samuel, considerado o maior Juiz em Israel e o responsável pela transição do juizado para a monarquia.
            Por outro lado, vemos também exemplos de desejos não realizados, apesar de terem sido expostos diante de Deus em oração; Deus respondeu a oração, mas não concedeu o desejo dos mesmos, vejamos alguns exemplos:
- Moisés orou a Deus depois de ter sido informado pelo mesmo que não entraria em Canaã e Deus não realizou o desejo de seu coração.     
- Davi suplicou a Deus para que seu filho (o que teve com Bate Seba) não morresse, mas não adiantou.
- Paulo pediu em oração por três vezes para que O Senhor o livrasse de um "espinho na carne" e a resposta de Deus não foi a que lhe estava no coração (de Paulo).
          É evidente que ao analisarmos os dois primeiros fatos sentenciaremos o pecado dos mesmos para a não realização de seus desejos: Moisés desobedeceu e Davi adulterou e assassinou Urias por mãos de seus inimigos. Mas por que Paulo não foi atendido em seu pedido? Será que foi porquê perseguiu a Igreja? Estava Deus com rancor por causa de seus servos e não abençoou a Paulo? Não acredito nessa possibilidade.
          Quando aceitarmos a soberania de Deus em nossas vidas e oramos sem egoísmo; quando reconhecermos que de Deus vêm as bênçãos e que é por sua graça que as alcançamos e não porque a determinamos como uma confissão de fé positiva; quando entendermos o propósito divino para nós e deixarmos que o Espírito Santo nos ajude em oração nos revelando a vontade do Pai para nossas vidas, então estaremos começando a aprender a diferença entre os nossos desejos e a vontade de Deus.  

Sobre o Autor
Bacharel em Teologia formado na FAESP;
Bacharelado e Licenciado em História pela FIEO;
Palestrante, Conferencista em diversos eventos;
Professor de Teologia (IETEB - Osasco/ ITF - Embu);

Escritor de apostilas utilizadas na grade do IETEB, conforme abaixo:

- Curso Básico:  Introdução Bíblica; Antigo Testamento; Novo Testamento;
- Curso Médio: Cristologia; Livros Poeticos; Período Interbíblico
- Bacharel: Cristologia; Livros Poéticos;
- Outros: Bibliologia Geral; Arqueologia Bíblica;
Escritor de diversas Apostilas usadas em Palestras, Estudos e Seminários. Entre outros títulos, citamos: Escatologia; O Adolescente; Laços do Passarinheiro (voltado aos jovens); Liderança/Líder/Relacionamento com o Grupo; Não Sejais Meros Ouvintes (Estudo no Livro de Tiago).




Um comentário:

  1. Continue nesta tua força meu caro e que a graça do Creador esteja sempre sobre a sua vida. Que a vontade do Pai seja sempre prioridade em tua caminhada.
    Deus seja contigo!

    ResponderExcluir