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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Graça, Tão Somente Graça.

Roberto Albuquerque dos Santos
 Dentre as mais variadas intra-relações entre Deus e o homem, uma das menos compreendidas, porém supra difundida é a que se refere à Graça divina. Por mais que se tente definir o termo, a simplificação do mesmo foi absorvida por séculos às mais diferentes sociedades como o favor imerecido de Deus aos homens. Embora seja simplista, a definição é satisfatória. Mesmo que a Graça não esteja vinculada a uma – ou se quer necessite de uma – definição, essa manifestação do amor divino se resume no ato da divindade agir em favor do adorador sem esperar recíproca.
Embora pareça que Deus requeira do homem obediência por agir em seu favor, esse ponto de vista é construído a partir da mente humana. A política da compensação não se aplica à complacência de Deus, ou seja, Deus não demonstra compaixão por o homem ter realizado algo para alcançar tal dom; a manifestação da Graça é puramente arbitrária; Deus não é condicionado (pois seria passivo a uma ação) a agir em favor do homem por ter recebido dele uma oferta. As ofertas descritas no Pentateuco serviam (servem) para disciplinar o homem no seu relacionamento com a divindade; mostravam (mostram) para os seres humanos sua categoria de criaturas, embora débis, preservados por um Deus criador; demonstravam (demonstram) o confronto entre a santidade divina e o pecado humano, no entanto, obstante a tal situação, a humanidade não se encontra excluída do amor divino.      
Enquanto a Teologia classifica os atributos de Deus, sua pessoa, etc, não consegue inserir, no entanto, dentro de suas prerrogativas, à ação divina de forma plena – pois Deus não se coaduna com o que dele se escreve, ou seja, teorias não o limitam –, mesmo levando em conta sua espontaneidade em agir. Enquanto os escritos rabínicos, já desde os tempos de Esdras, classificam as ações religiosas como vontade de Deus, escritos bíblicos – embora com forte influência de um “puritanismo religioso” com tons de “santidade” – denotam uma sentença profética abarcadora a todas a gentes. Assim, tanto a Teologia – desde a Patrística até a Contemporânea – e os escritos das mais diversas tradições judaicas, insurgem em classificar e atribuir regras a uma virtude que compete à natureza divina.
Mesmo que os estudos produzidos sobre a Graça de Deus tenham o intuito de edificar, não foge muito a um tom dogmático, tendencioso, preconceituoso, intolerante e possuidor de juízo de valor. O que se constrói acerca da Graça é um produto da interpretação do que se entende por Graça. Por mais que se ovacione a Graça divina como infindável, indelével, etc, em determinados credos religiosos ou em cartilhas dogmáticas de denominações, ou mesmo se introduza aos ensinos teológicos definições ao termo, no entanto, na prática, a mesma Graça – ensinada infindável – torna-se refém do interesse a quem a queira outorgar (por quem se diz representante da divindade). Como conseqüência, o perdão é uma prerrogativa para poucos.

Esse padrão de posse da benevolência divina por parte do oficial da religião é desde os mais primitivos tipos de manifestação cultual. Isso pode ser visto tanto entre os beduínos do deserto, entre os bárbaros na Europa e até entre os índios nas Américas (o tóten, por exemplo). Destarte, se esse padrão configurou-se entre formas politeístas de crença não fugiu ao sistema monoteísta de adoração. A Graça em todos esses sistemas ainda é uma prerrogativa dos deuses manifestada ao algoz diante de seu próximo. Pode ser manifestada de forma direta (entre os índios se manifestada, principalmente, pela natureza) ou indireta. Quando indireta, ou seja, quando necessária ser efetuada pelo “profeta” ou “sacerdote”, que são representantes (oráculos) da divindade, o julgamento para anunciação da penalidade ao acusado – ser ou não perdoado – era (ou é) influenciado pelo jogo de interesses advindo da cúpula religiosa e não em interesse a quem representavam (os deuses).
Esse tipo de julgamento não foi (e não é) exclusividade de comunidades bárbaras, silvícolas ou politeístas. O monoteísmo judaico apresenta muitos exemplos tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. O Sacerdote tinha o poder de abençoar ou amaldiçoar a quem lhe aprouvesse, bastava o homem não seguir a Lei do Senhor. Obstante a mesma Lei orientar o amor entre os homens, os mesmos se apoderavam mais dos “parágrafos” que tratavam da relação entre “culpa e dívida”; “o que é meu por direito”; “como ter vantagem ante o próximo”; “como se vingar pelo sangue derramado”, etc. A perspectiva divina ao promulgar a Lei por intermédio de Moisés não propunha tal esfera de comportamento para os homens. Esse comportamento pode ser visto com mais clareza não apenas entre homem perante homem, mas entre homem perante a divindade. Os judeus requerem para si vingança da parte de Deus contra seus inimigos; há Salmos imprecatórios onde a Graça é excluída totalmente da relação ofensor/ofendido (ver Salmo 109); Jonas se esquiva, foge desobedece a Deus por não querer ir a Nínive anunciar a catástrofe e possível perdão por arrependimento e se entristece a tal ponto de ficar enfermo por Deus cancelar o mal que havia predito aos ninivitas; etc. No Novo Testamento o exemplo mais clássico é o caso da mulher apanhada em adultério e levada perante Jesus, não para ser julgada por Ele, mas para se saber o parecer que Ele daria pela Lei acerca do assunto. O parecer de Jesus foi tão significativo que a mulher foi julgada ali mesmo; foi condenada pelo seu ato perante a Lei, mas foi absolvida perante os atos dos homens que a condenaram ante a mesma Lei (“Quem nunca pecou...”). A Graça divina se manifestou naquele momento em demonstrar aos homens que todos pecaram e que diante uns dos outros o comportamento ideal perante uma Lei que lhes condenavam era se perdoarem, já que o cumprimento da Lei é o amor.
Ainda hoje essa prerrogativa não encontra ênfase no relacionamento entre os seres humanos. Ademais, quando vista apenas como uma Doutrina Teológica ou uma Dispensação que efeito tem? A Graça de Deus não se confina a uma Dispensação. Desde o Éden que a vemos. Ela se manifestou aos homens pré-diluvianos e se manifesta até hoje. Pensar que vivemos o tempo da plenitude da Graça é pensar em um Deus que tem medidas para dispensar perdão e, se assim for, estaremos concebendo um Deus que tem variações com relação ao tempo e com relação às atitudes dos homens. A Graça divina não se atém à cumplicidade do homem com Ele. O Apóstolo Paulo registra que Cristo nos amou desde o tempo que o homem estava no estado de constante pecado, ou seja, alienado de Deus. Portanto, Deus não defere Graça ao homem por ele ter alcançado um grau de satisfação diante dele. Não! A Graça de Deus se manifesta sem medidas aos homens desde a criação dos mesmos, independente de quem ele seja ou o que faça. Não excluo com isso a justiça merecida à humanidade. Biblicamente todos serão julgados segundo suas obras. E essa é a importância do entendimento da Graça, desse favor por parte da divindade ao pecador. Ela antecede a justiça em busca do homem. O escritor Joanino expressa em seu primeiro capitulo (Evangelho) que Cristo era “... cheio de Graça e de Verdade” (Jo 1.14). A Graça está posta antes da Verdade. A Verdade é a justiça; é o campo de atuação onde não há misericórdia; onde não há meio termo; é onde o perdão para o condenado é inacessível, ou seja, para ele só resta a sentença condenatória. É por isso que a intra-relação entre os homens precisa ser de perdão, de graça entre si, pois Jesus exclamou que o homem é perdoado na medida que perdoa (intra-relação pessoal), ou seja, é Graça (divina) sobre graça (humana). Enquanto a graça do homem para com o homem se estabelece pelo vinculo do perdão, a Graça divina ultrapassa essa expectativa. Fosse o contrário, estaria ela submetida a vínculos para ser manifestada. Por ser arbitrária, ela é concedida por Deus ao homem tão pura e simplesmente por amor. Assim, o homem por ser criação divina o recíproca com adoração, enquanto por ter recebido a Lei sua atitude é condicionada à obediência, pois a Lei pede obediência para ser cumprida. A Graça, no entanto, gera no homem uma atitude de agradecimento para com Deus. Essa cumplicidade é conhecida como comunhão, ou seja, o adorador em paz com a divindade através do vinculo da Graça. Esse empreendimento da divindade em prol do adorador não exonerou a Justiça, mas cumpriu suas exigências quanto à prerrogativa legal justificando o homem através de sua fé não por algo que ele (o homem) possa ofertar para ser aceito, mas através do sacrifício do Verbo divino.  
Assim, não necessitando do favor humano para se estabelecer um vinculo comunal, nem tampouco esperando do mesmo dotes de qualquer natureza que possa ser dado em troca pelo favor concedido, Deus proporcionou ao homem ser alcançado por Sua Graça, e tão somente por Graça, pode o homem se reconciliar com seu criador, preservador e salvador.     

Sobre o Autor
Bacharel em Teologia formado na FAESP;
Bacharelado e Licenciado em História pela FIEO;
Palestrante, Conferencista em diversos eventos;
Professor de Teologia (IETEB - Osasco/ ITF - Embu);

Escritor de apostilas utilizadas na grade do IETEB, conforme abaixo:

- Curso Básico:  Introdução Bíblica; Antigo Testamento; Novo Testamento;
- Curso Médio: Cristologia; Livros Poeticos; Período Interbíblico
- Bacharel: Cristologia; Livros Poéticos;
- Outros: Bibliologia Geral; Arqueologia Bíblica;
Escritor de diversas Apostilas usadas em Palestras, Estudos e Seminários. Entre outros títulos, citamos: Escatologia; O Adolescente; Laços do Passarinheiro (voltado aos jovens); Liderança/Líder/Relacionamento com o Grupo; Não Sejais Meros Ouvintes (Estudo no Livro de Tiago).
Email: pr_robert@itelefonica.com.br
                        

Um comentário:

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